A optogenética é uma técnica criada em 2005 que mistura biologia molecular com estimulação ótica para investigar o funcionamento dos nossos circuitos cerebrais. Em 2013, um pesquisador descobriu que ratos de laboratório dependentes em cocaína tinham a ânsia pela droga diminuída quando tratados com base nessa metodologia: proteínas sensíveis a luz eram introduzidas no cérebro dos roedores e um feixe de luminoso estimulava o córtex pré-frontal deles, reduzindo a necessidade da droga. Como essa técnica só foi testada em animais e as consequências do uso humano ainda são desconhecidas, cientistas se inspiraram no sucesso da optogenética no tratamento dos ratinhos para investigar um procedimento alternativo no que diz respeito a humanos: a estimulação magnética transcraniana.
Apesar do nome pomposo, a TMS, como também é conhecida, é basicamente a aplicação de grandes imãs na testa do paciente. Tradicionalmente utilizada no combate à depressão, a TMS faz uso de campos magnéticos para estimular células nervosas do cérebro. Por cinco dias consecutivos, os participantes da pesquisa receberam pulsos indolores na região frontal da cabeça e, dos treze voluntários que fizeram o tratamento completo, dez apresentaram resultados positivos.
Apesar de promissores, os resultados ainda não são definitivos. Primeiro, porque o número de participantes da pesquisa foi muito baixo. Segundo, porque dependentes de cocaína estão mais sujeitos ao chamado efeito placebo por estarem em uma situação fragilizada, em busca de soluções rápidas para o seu vício. Antonello Bonci, autor do estudo percursor com os roedores e pesquisador do Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos EUA, diz estar planejando um estudo bem mais abrangente e aprofundado sobre a relação entre TMS e a dependência de cocaína. Ele acredita que, dentro de alguns anos, esse será um tratamento aceito pela comunidade médica.
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Esse tempo de “alguns anos” até a popularização do tratamento se deve em parte pelo fato dos próprios médicos ainda não saberem muita coisa sobre a TMS e como ela funciona. Uma hipótese é que ela aprimora as conexões neurais ou que estimula a produção de neurotransmissores como a dopamina – ou talvez as duas coisas.
Além de ser popular no tratamento de depressão há cerca de três décadas, diversos estudos já mostraram a eficácia da TMS contra o Mal de Parkinson, enxaqueca, epilepsia e transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Mais recentemente, os cientistas começaram a desenvolver pesquisas – a maioria delas com resultados bem animadores – para descobrir possíveis aplicações nos mais variados tipos de vícios, como alcoolismo, tabagismo e compulsão alimentar.